segunda-feira, 18 de julho de 2011

Adam Smith em entrevista

Vários cientistas econômicos deram contributos valiosos para o progresso da economia enquanto ciência. As publicações, mesmo tendo grande repercussão durante muito tempo, não estão acessíveis para o grande público. Poucos tiveram a oportunidade de ler a obra original destes autores e por vezes são pouco compreendidos por leitores ocasionais de assuntos ligados a economia. Neste espaço vou dedicar á análise de algumas contribuições essenciais para o desenvolvimento da economia como ciência e dar uma interpretação pessoal sobre a obra destes cientistas econômicos.

A apresentação será feita no formato de entrevista simulada com os grandes cientistas da economia que contribuíram para o debate e desenvolvimento da economia politica. Para começar, é obvio que teria de ser uma entrevista com Adam Smith, considerado pela grande maioria dos economistas como o “Pai” da ciência económica. Titulo que considero merecido dada a abrangência da sua análise, pioneirismo, rigor científico e por ser a primeira exposição global, coerente e sistemática da vida económica das nações.

Adam Smith é um economista classico e como todos os demais colegas clássicos, teve preocupação em entender o processo de crescimento económico dos países e a participação das classes sociais neste processo. Ele nasceu na Escócia e viveu durante o periodo de 1723 a 1790. As duas principais obras dele foram The Theory of Moral Sentiments ("A Teoria dos Sentimentos Morais"), publicado em 1759 e An Inquiry Into the Nature and Causes of the Wealth of Nations ("Uma Investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações"), em 1776.

Para entender o pensamento e as contribuições deste incontornável cientista e filósofo moral devemos contextualizar o periodo em que ele viveu e as transformações que ocorria na europa no periodo. O dominio do iluminismo, transmitindo os ideiais de liberdade, o grande progresso que se verificava nas ciências com a valorização da capacidade racional do homem despertou uma busca desenfreada para descobrir as leis naturais que regulavam a “ordem natural”. Acreditava-se que o homem, ser dotado de racionalidade poderia, através de um esforço investigativo, descobrir as leis que regiam todos os fenómenos naturais. O homem, como um ser natural, era regido também por leis naturais. Caberia ao cientista investigar e descobrir essas leis. Neste contexto surge Adam Smith, na busca dessas leis que garantiam as regularidades e explicavam o auto equilibrio e auto-regulação do sistema de mercado. Nessa busca Adam Smith encontrou a “Mão invisivel”. A  sistematização dessa investigação no livro publicado em 1776 revolucionou todo o pensamento económico da época e cuja influencia se extende até hoje.

Antonio Baptista (Tozé): Adam Smith, porquê o titulo do livro “Uma investigação….”?
Adam Smith: O desenvolvimento da ciência que se verificou com os trabalhos de Newton trouxe a preocupação de se demarcar dos demais conhecimentos não científicos e por isso pensei colocar o titulo para diferenciar dos demais estudos que não tiveram a preocupação rigorosa com a metodologia científica.

TZ: É a influencia do iluminismo?
AS: De certa forma sim. Os ideiais defendidos pelos filósofos iluministas da época tais como a liberdade, igualdade, fraternidade, valorização da razão, existência da ordem natural e a comprovação da existência de uma “ordem” nas demais ciências (por ex: a mecânica newtoniana etc) me estimularam a empreender um estudo semelhante na economia adoptando procedimentos científicos e comprovar que a economia era regida também, por leis naturais.

TZ: Mas essa ordem natural funciona na economia? É possivel a existência de leis rígidas e imutáveis que garante a regularidade e a previsibilidade na economia?
AS: Claro que sim. A economia é uma ciência natural portanto sujeita a leis naturais  que podem ser descobertas.

TZ: Você já tinha publicado outro livro “Teoria dos sentimentos morais”. Qual a motivação e conclusão com a publicação desse livro?
AS: Neste livro tentei á semelhança de Hobbes, Rouseau etc, tentar descobrir detalhes da natureza do homem. Mas em especial do homo economicus. Observei que o comportamento é dominada pelas paixões e os instintos de auto preservação e auto interesse, porém controlada por uma capacidade de simpatia, e por uma presença interior que aprova ou desaprova as acções do indivíduo na sociedade. Ele se preocupa com a sorte do seu semelhante e tem capacidade de criar instituições capazes de mitigar os conflitos que possam surgir.

TZ: E quanto ao livro “A riqueza das nações”?
AS: Como o titulo deixa evidente, a minha preocupação era entender o processo de desenvolvimento das nações e compreender o papel das diferentes classes sociais nesse processo. A orientação foi  tentar demonstrar que o mercado tem capacidade de auto regulação e tende sempre ao equilibrio. Qualquer intervenção ou tentativa de melhoria só pode piorar a situação. A intervenção, regulamentação do governo, privilégios empresariais tais como monopólios, geralmente perturbam a ordem natural. Os homens voltados para seus próprios interesses são conduzidos por uma mão invisível...sem saber e sem pretender isto, realizam o interesse da sociedade.

TZ: OK, por ser grande defensor da ordem natural baseada na livre competição dos indivíduos em condições competitivas, acreditas que qualquer evento que altera o preço na sua trajectória natural causa perturbações na ordem mas, antes de entrar em detalhes, queria entender o processo que gera a tal riqueza das nações.
AS: A riqueza das nações é gerada pelo trabalho e não pela acumulação de ouro e prata como acreditavam os mercantilistas. É o trabalho humano que gera riqueza. O crescimento económico de países torna-se possível graças ao processo de divisão do trabalho que por sua vez permite a especialização e ganhos de produtividade. Veja bem, a questão de classes sociais que tinha citado antes é que a classe importante neste processo é a dos capitalistas, pois são a única classe que pode promover o processo de acumulação de capital (investimento nas empresas, maquinas etc). Esse é o processo virtuoso de uma economia de mercado pois, o investimento gera emprego e PIB. Os capitalistas possuem a racionalidade económica que lhes permitem fazer investimentos em bens de capital.

TZ: Que papel seria desempenhada pelas outras classes (operários e latifundiários)?
AS: Pouco. Na verdade, muito pouco. Os latifundiários embora usufruírem da renda, não participam no processo de acumulação de capital, preferem gastar o excedente em bens de consumo, supérfluos, desviando recursos escassos do processo produtivo. Os operários infelizmente gastam tudo que tem no consumo, não tem capacidade de poupar e investir.

TZ: Significa então que nem todos capitalistas promovem crescimento económico?
AS: A contribuição deles só é favorável se participarem no processo de acumulação de capital, se promoverem melhorias na produtividade etc. O gasto em bens de consumo de luxo, importados, tem pouca contribuição no desenvolvimento. A aquisição de viaturas de luxo, tipo Prado, Touareg, BMW etc contribui de forma limitado no processo de crescimento económico, porque além de provocar deficit na balança comercial não tem efeito multiplicador e nem melhoram a produtividade das empresas...Desculpe, empolguei!!!

TZ: Pois é, Prado, Touareg? São da sua época?? Efeito multiplicador? Mas você não esta indo contra o livre comércio?
AS: Não. Estava pensando em termos de racionalidade económica. Todos são livres para decidir o que fazer com o seu dinheiro e decidir que bens comprar. Sou defensor do laissez-faire que é um sistema óbvio e simples de liberdade natural. Na verdade a generalização da divisão do trabalho em termos internacionais permite aos países usufruírem das vantagens absolutas. Cada um se especializando na produção de determinados bens que posteriormente serão trocados nos mercados gerando melhorias nas condições de vida de todos.

TZ: Para terminar, gostaria de saber a sua posição quanto ao estado. Qual o papel que lhe reservas na economia?
AS: O estado é fundamental. Entretanto, defendo que ele não deve intervir nas leis do mercado. Ao estado cabe garantir a defesa nacional, administrar a justiça, garantir a propriedade privada, provisão de instituições e obras sem fins lucrativos, garantir a ordem interna, controlar a emissão de papel-moeda (que não deve ser deixado nas mãos de banqueiros) e até mesmo proteger a industria nacional em determinadas situações.

TZ: Não sei até que ponto esta a acompanhar a actual crise económica. Mas nota-se uma nítida tendência do estado intervir na economia e inclusive com nacionalização de varias empresas, adoptando politicas tipicamente defendidas por Keynes.
AS: Provavelmente a crise deve ser derivada de alguma ingerencia do estado, pressionando os bancos a ceder créditos para maus pagadores. Mas como essas idéias de politicas públicas derivadas da doutrina Keynesiana não são da minha época, por isso sugiro que perguntes ao Hayek ou ao Miltom Friedman que foram  (da mesma época) seu contemporâneo.
TZ: Obrigado, descanse em paz.

4 comentários:

Anónimo disse...

MUITO BOOM MESMO, MUITA INFORMAÇAO , GOSTEI BASTANTE , UM DOS MELHORES SOBRE ADAM SMITH .....
VLLW PELAS INFORMAÇOES AEÊ !!!1

Tozé disse...

Obrigado pelo comentário. Visite sempre e dê o seu contributo.
Abraços
Tozé

Anónimo disse...

Fiz um trabalho para a Escola sobre ele e o seu artigo me ajudou a relacionar os pensamentos dele com a crise atual na economia mundial.
Foi legal.
Obrigado
Felipe

Anónimo disse...

Muito Bom, seu artigo me ajudou muito
em um trabalho na escola
Obrigada.
"Rubrieli"

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