domingo, 10 de julho de 2011

Com(s)ciência económica

Poucas pessoas se dão ao trabalho de estudar a origem de suas próprias convicções. Gostamos de continuar a crer no que nos acostumamos a aceitar como verdade. Por isso, a maior parte de nosso raciocínio consiste em descobrir argumentos, para continuarmos a crer no que cremos.” Joan H. Robinson

A economia como ciência tem sofrido variaos criticas em relação aos seus resultados teóricos e seus pressupostos metodológicos. Os críticos afirmam que esta ciência tem pressupostos irrealistas, muitas vezes descrevendo ficções ou casos pouco realistas e não são poucos os casos em que os procedimentos e protocolos científicos são simplesmente ignorados. Vários defeitos e problemas metodológicos ou epistemológicos têm sido apontados e os intensos debates em torno desses temas contribuíram para o desenvolvimento da economia enquanto ciência principalmente em termos de aprimoramento metodológico e objetividade.

Os cientistas sempre se preocuparam com a demarcação do conhecimento científico das outras formas de conhecimento (religião, mitologia, filosofia etc). Essa preocupação pode ser constatada pela análise histórica das contribuições dos filósofos da ciência. Desde o surgimento da ciência moderna com Descartes no sec XVII pode-se notar a grande atenção dispensada ás questões relativas ao método científico. No sec XX ocorreram grandes debates (batalha do método) em torno dos aspectos epistemológicos do conhecimento científico. Neste contexto pode-se indicar a contribuição do “Circulo de Viena”, publicando um manifesto – Uma visão científica do mundo – em que se adota o positivismo lógico como filosofia e o princípio da verificação como critério de demarcação da ciência e outras formas  de conhecimento. Nesta ocasião foram privilegiados a lógica, a matemática e o método indutivo como ferramentas na busca do conhecimento. 

Karl Popper, em 1934, publicou o livro A lógica da pesquisa científica, apresentando como alternativa ao critério da verificação o falsificacionismo, em que teorias mereciam status de ciência na medida em que alcançassem um maior grau de falseabilidade através de constantes criticas teóricas, defendendo também, que o método dedutivo seria mais adequado do que o indutivo.

A critica ao positivismo continuou com os filósofos Thomas Khun e Imre Lakatos. No livro A estrutura das revoluções científicas, Khun apresentou o conceito de paradigmas, que pode ser interpretado como conjunto de crenças, valores, técnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma comunidade científica, fornecendo um modelo de análise de problemas científicos, ou seja, uma visão de mundo em que a razão científica fica circunscrita aos limites definidos pelo paradigma. Khun defende que a ciência se desenvolve através das revoluções científicas, que promoveriam a substituição de paradigmas, adotando aquele com maior capacidade de explicar os fenômenos no momento.
Lakatos defende no livro Metodologia dos programas de pesquisa científica que as teorias nunca são completamente abandonadas mesmo quando refutadas.

Um remédio eficaz para por fim a toda essa discussão filosófica foi proposto por Paul Feyerabend, no livro Contra o método, publicado em 1975, em que ele defende o anarquismo metodológico isto é, “tudo vale”, mesmo a violação de normas. O cientista deve tornar sua teoria persuasiva por meio de recursos retóricos de propaganda, preferências estéticas, políticas, econômicas para convencer a comunidade científica. Feyerabend defende que são fatores subjetivos que acabam determinando o sucesso ou o fracasso de uma teoria.

Tanto Popper, Positivistas, Khun quanto Lakatos sofriam de uma restrição comum que é o fato de restringirem o objeto de investigação científica á experiência factual. Na economia essa limitação pode ser encontrada também nas propostas de Milton Friedman no seu livro A metodologia da economia positiva publicado em 1953.

Uma proposta metodológica que se julga mais adequada para a economia (embora ainda não é referida nos manuais económicos de “consumo de massa”) é o realismo critico. A publicação do livro A Realist Theory of Science de Roy Bhaskar na década de 70 trouxe grande progresso no debate da metodologia da ciência. Na economia, a proposta do realismo critico de Bhaskar foi introduzido por Tony Lawson no livro Economics and Reality em 1997 e traz a afirmação de que toda a teoria científica pressupõe uma visão de mundo. Lawson demonstra que o método dedutivo não é adequado para abordagem de fenômenos econômicos porque restringe o objeto da ciência a fatos empíricos e a realidade não se esgota nos fatos. O método mais adequado, portanto, é o método retrodutivo, que visa explicar os mecanismos e leis causadoras do curso efetivo dos eventos, permitindo uma ciência econômica mais objetiva.

Desde o século XIX a Escola Histórica Alemã já questionava a adequabilidade dos métodos dedutivos e indutivos na investigação econômica. A descoberta do “inconsciente” pela psicanálise, a identificação da “ideologia”, os avanços da física teórica, o postulado da racionalidade limitada etc colocaram em causa a objetividade e demonstraram as limitações inerentes à abordagem positivista na economia.
Existe atualmente, uma pressão para adequar os procedimentos metodológicos da economia ao “Homem Real” em vez de se divagar sobre o “Homem Econômico”. Tendo alguns cientistas proposto que em termos metodológicos deveria-se migrar do método hipotético-dedutivo para o historico-dedutivo. Da mesma forma existe a pressão para se limitar as generalizações teóricas e a prescrição universal das propostas de políticas.

O progresso da economia enquanto ciência requer constante revisão dos pressupostos, maior problematização dos fatos e evitar as pressões políticas que empuram para o convencional e ideológico, desviando da orientação científica.

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