quarta-feira, 20 de julho de 2011

Quem podemos culpar pela crise? O sector privado ou o sector público?

O deficit em transacções correntes é imprudente e insustentávelOlivier Blanchard-Economista chefe do FMI
É comum atribuir a culpa pela crise ao sector público. A ideologia dominante e a retórica de culpabilizar a intervenção do estado como a raiz de todos os males económicos é muito forte e esses argumentos são difíceis de serem refutados por pessoas comuns. Existe uma sabedoria convencional que muitas vezes por ingenuidade, não consegue entender a dinâmica da interacção económica entre os diferentes agentes económicos e relega ao estado um papel insignificante na determinação dos rumos da economia e atribui, de forma linear, que em relação aos “males” a culpa é do estado e as “benesses” são obras do sector privado. Mesmo a imprensa costuma destacar apenas a dívida pública sem focalizar o problema crucial que esta no sector privado e encontra-se associado ao deficit na conta corrente.
Ao analisarmos os dados publicados pelo FMI relativos a alguns Países da Europa pode-se perceber que o aspecto que os PIGS (Iniciais de Portugal, Irlanda, Grécia e E(S)panha) tem em comum é o deficit persistente na Balança de Transacções Correntes. Todos apresentaram agravamento da conta corrente. É certo também que em relação á Divida Pública em proporção do PIB muitos desses países apresentaram agravamento da divida porém, foi algo que aconteceu na grande maioria dos Países analisados e pode ser entendido como a manifestação da lei de Wagner que estabelece uma relação positiva entre o crescimento económico e o aumento do gasto público. Factores como o aumento do nível de rendimento per capita, aumento populacional, urbanização, etc influenciam o aumento dos gastos públicos para atender as exigências da população.
Geralmente o deficit em Transacções Correntes indica um sector privado pouco competitivo e oferece evidências de que o verdadeiro problema esta nas empresas. Existem vários países que mesmo apresentando divida pública superior ao que se verifica nos PIGS, não apresentam uma situação complicada pelo facto de que são superavitários na conta corrente (ex: Alemanha, Bélgica, Áustria, Holanda etc).
Enquanto não se livrar da restrição ideológica que culpa o sector público e, aceitar trabalhar na melhoria da competitividade do sector privado, dificilmente os PIGS irão superar a crise. E na conjuntura actual esses Países não dispõe do instrumento clássico de ganho de competitividade a curto prazo que é a desvalorização cambial portanto, a solução além de ter de ser coordenada entre os Países da zona do Euro, não será fácil de se encontrar. Tratar os sintomas sem curar a causa não parece ser um procedimento sustentável.
É incrível o descaso que a imprensa e inclusive muitos “economistas” apresentam ao trabalhar com a questão da conta corrente. Essa situação se explica em grande parte pelas restrições ideológicas que molda a metodologia de trabalho a ideias pré-concebidas ao invés de se arriscar em diagnósticos e soluções mais adequadas para cada situação. Para maiores detalhes sobre a conta corrente ver este post.
Fonte: Adaptado do World Economic Outlook – FMI/Abril 2011

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