quarta-feira, 20 de abril de 2011

Educação financeira e racionalidade económica

Toda a moderna teoria económica está assente na capacidade de auto-regulação e perfeição do sistema de mercado e no princípio da racionalidade dos agentes económicos. Não precisamos fazer muito esforço para deixar evidente o facto de que existem falhas no sistema de mercado e muitas pessoas apresentam limitada racionalidade. O aspecto preocupante é que essa situação é mais regra do que excepção.

A existência de falhas de mercado relacionadas com a racionalidade limitada dos agentes económicos, informação incompleta, externalidades, assimetria de informação e estruturas de mercado de concorrência imperfeita, geralmente associadas a poder de mercado - que é a capacidade de empresas influenciarem a quantidade ou o preço dos produtos, tem justificado a necessidade de regulação económica como forma de alcançar maior eficiência nos mercados.

A habilidade financeira, nos dias de hoje, é uma competência que precisa ser melhorada para que os cidadãos comuns não sejam vítima do sistema perverso e muitas vezes pouco ético que se progride com a desgraça dos incautos e menos dotado de conhecimento sobre finanças (informação incompleta e assimetria de informação).

A racionalidade limitada, a informação imperfeita, influência das técnicas de vendas modernas, marketing e facilidades de crédito pode levar a decisões pouco racionais ou ineficientes na afectação de recursos, gerando externalidades negativas e ineficiências no mercado. Frequentemente, os consumidores ditos “livres” e soberanos mas ignorantes em termos financeiro devido á racionalidade limitada e informação incompleta são levados a um nível de endividamento insustentável, carecendo de maior regulação no mercado de crédito no sentido de proteger a economia e permitir um equilíbrio mais eficiente.

A pouca inteligência financeira e limitada racionalidade tem padronizado o investimento das famílias á imitação das opções dos vizinhos sem uma análise financeira e intertemporal. Essa situação é nitidamente uma situação característica da “falha de mercado”, no sentido de que as opções individuais estão de certa forma condicionadas pela escolha dos vizinhos. Uma espécie de externalidade que pode ser negativa caso a escolha de investimento, ao seguir a maioria, lhe deixar mais pobre.

Muitas pessoas, motivadas por objectivos não-económicos tais como a vaidade, acabam por fazer escolhas pobres na selecção dos investimentos, dificultando o alcance de um melhor desempenho da economia. Esta situação não é desejável porque se trata nitidamente de uma situação sub-ótima e requer mecanismos e incentivos para levar a economia a uma situação melhor (ver a ideia do paternalismo libertário, contra, contra, outro texto sobre o assunto).

O homo economicus, dotado de racionalidade económica, procura acumular capital. Essa é a sua essência - como defendido por Adam Smith - e nesta base ele contribui para o progresso da sociedade capitalista. Entretanto, não é em todas as sociedades que os indivíduos demonstram ser homo economicus, limitando o desempenho da nação como todo ao concentrarem os investimentos em bens de consumo (muitas vezes de luxo e importado) em vez de promoverem a acumulação de capital que origina emprego e crescimento económico.

A crise financeira que tem assolado o mundo recentemente alertou para a necessidade de maior regulação nos mercados financeiros e da disponibilidade de maiores informações para dar suporte às decisões dos agentes económicos. Neste contexto a participação e liderança do estado é fundamental, principalmente no estabelecimento de instituições que possam moldar o comportamento racional dos indivíduos antes guiados pela vaidade, ostentação e o consumismo. Somente desta forma poderemos garantir maior eficiência do mercado e permitir crescimento económico saudável, com acumulação de capital.

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