terça-feira, 12 de maio de 2020

A tributação patrimonial e o desenvolvimento economico


“Os incentivos são a pedra de toque da vida moderna. Entendê-los – ou, na maior parte das vezes, investigá-los – é a chave para solucionar praticamente qualquer enigma...”Steven Levitt
O desenvolvimento é o resultado das opções de políticas económicas implementadas pelo governo e fruto do esforço coletivo nacional. O sacrificio, a nossa participação (através do pagamento do imposto) e o trabalho árduo são essenciais para moldar a nossa dignidade e comprometimento com os resultados. Também propicia as condições necessárias para que a população se sinta no direito de fiscalizar e reivindicar melhores políticas públicas e influenciar no sentido de maior responsabilidade por parte do governo no uso dos recursos públicos.
A história indica que o desenvolvimento económico é alcançado somente com esforço coletivo, comprometimento político e lideranças que souberam aproveitar oportunidades para promover a acumulação de capital fisico, do capital humano, do capital natural e do capital social.
O processo de acumulação de capital é o resultado das opções e decisões (comportamento) dos agentes económicosem relação ao uso do dinheiro especificamente, da opção de se investir em bens de capital.
Considerando que o comportamento dos agentes económicos está condicionado á estrutura de incentivos que a sociedade apresenta, abre-se espaço para se arquitetar um conjunto de incentivos económicos, sociais e morais para garantir que as decisões de afectação de recursos sejam feitas de forma racional em vez de serem determinadas por factores emocionais tais como a vaidade, ostentação, desejo e impulso. O padrão moral/cultural da sociedade pode incentivar a valorizaçãodo “ter” e do “parecer” em detrimento do “ser” e levaras famílias a sobre-investimentos em bens de consumo (ex: casas e carros) o que, por sua vez, limita a acumulação de capital e por conseguinte, o desenvolvimento do País.
Esta situação, na ausência de mecanismos económicos de regulação tende a criar um círculo vicioso em que se satisfaz o ego e a vaidade através dos bens de consumo porém, compromete o desenvolvimento da economia. São decisões individuais e “racionais” porém, podem não estar alinhados com o desejo colectivo do desenvolvimento, que so pode ser alcançado pelo investimento sistemático em bens de capital.
O país tem permitido a satisfação de “vícios privados” porém, sem contrapartida em termos de “benefícios públicos” pois, os mecanismos de transferência de rendimentos não existem ou são extremamente precários. Já é notorio o divórcio entre a qualidade dos bens privados, ostentados pelas familias e a qualidade dos bens públicos, providos pelo estado. Neste contexto, a tributação patrimonial é o mecanismo mais eficiente para se estabelecer os incentivos necessários para moldar o comportamento e a “racionalidade” dos agentes económicos e permitir sustentar o processo de acumulação de capital e garantir a prosperidade nacional.
Tendo em consideração que os demais agentes económicos (famílias e empresas) não têm por finalidade promover o desenvolvimento económico, cabe ao Estado, a criação de incentivos eficientes que possam orientar a população no processo de decisão e “direccionar” a afectação de recursos privados para a acumulação do capital.

Sabendo de antemão que o desenvolvimento económico não acontece por acaso mas sim através de uma decisão racional e deliberada de acumulação de capital (investimentos) por parte de uma parcela significativa da população que tenha espirito empreendedor, o governo deve promover políticas públicas que possam moldar a mentalidade nacional para o investimento. O único instrumento disponivel, efectivo e eficiente é a tributação patrimonial.
A sociedade é sustentada por um conjunto de instituições (normas e regras) que moldam o nosso comportamento político, social e económico. Pode-se verificar que no País ja existem varios mecanismos institucionais que tem por objectivo estabelecer as regras do jogo na sociedade. A nossa constituição da república estabelece regras claras para o jogo político; as normas sociais, a cultura, a tradição, os valores compartilhados etc, oferecem as balizas para o nosso comportamento social porém, em relação a economia, o país carece ainda de normas/regras que possam moldar o comportamento racional dos agentes económicos e permitir melhor afectação dos recursos escassos.
O sistema tributário é um excelente incentivo para determinar condutas, estabelecer a “arquitetura de escolhas” e moldar o comportamento dos agentes económicos. Na inexistência desses incentivos os agentes económicos do País podem fazer escolhas pobres para investimento e comprometer de certa forma o desempenho futuro do País ao concentrarem os investimentos em bens de consumo (ex: imóveis e automóveis) muitas vezes, sobre-dimensionados, diminuindo a disponibilidade financeira para investimentos em bens de capital, que são essenciais para o crescimento económico e geração de emprego.
Sem dúvida que o motor de crescimento económico em qualquer país é o sector privado porém, a sustentabilidade do processo de desenvolvimento vai depender do re-investimento dos lucros e renovação do processo de acumulação de capital. O sistema tributario deve ser estruturado por forma a incentivar o investimento em bens de capital.
A efectiva tributação patrimonial é, provavelmente, a única alternativa que o País tem para se desenvolver e é, também, uma condição necessária para maior justiça social, fiscal e económico.

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