“Quem torto nasce, tarde ou nunca se endireita”(Ditado
popular)
Os economistas concordam com a
ideia de que a dinamização do setor empresarial determina
o crescimento do emprego e do Produto Interno Bruto (crescimento económico). O
progresso tecnológico, por meio da capacidade de inovação e criatividade,
permite sustentar o processo de crescimento económico no longo prazo.
Sobreviver no ambiente globalizado e
competir com empresas de classe mundial não tem sido uma tarefa fácil para as
empresas nacionais e de certeza, não será possível, sem uma estratégia bem
definida em relação à busca pela inovação, criatividade, diferenciação e, sem promover
a cultura empreendedora nacional pois, aumentar a competitividade do país
requer pessoas criativas e inovadoras com capacidade de escapar de ideias
convencionais.
O aspeto preocupante é que a inovação e a
criatividade na economia de Cabo Verde ainda são incipientes. Regista-se poucas
inovações tanto de processos como de produtos e, as nossas limitações em termos
de criatividade e diversificação são evidentes. Essa situação é mais regra do
que exceção principalmente, se levarmos em conta que em Cabo Verde a grande
maioria dos jovens demonstram pouca propensão ao empreendedorismo e grande
parcela da população tem demonstrado limitada racionalidade económica. Ainda, podem
ser facilmente diagnosticados outros traços de comportamentos tais como a intolerância,
a impaciência, a insegurança etc. Perfil, possivelmente determinados por “traumas”
na infância.
Portanto, analisar em que condição se dá
o “processo de moldagem” da nossa personalidade durante a infância é uma tarefa
imprescindível para prepararmos melhor para a vida adulta e, permitir ao país vencer
os desafios do crescimento económico e geração de emprego. O desenvolvimento
depende de pessoas com ideiaspositivas, progressistas, sem complexos e sem
traumas na infância que limitem a autoestima e a autoconfiança.
A
capacidade criativa geralmente é determinada na infância. A liberdade de
expressão é um factor importante na formação de crianças criativas,
persistentes, comprometidas com suas metas e com auto-confiança. Aspectos esses
que são imprescindíveis para o sucesso na vida e nos empreendimentos.
O psicólogo
Erik Erikson, professor em Harvard, defende que toda a criança passa por um
estágio chamado de Confiança x Desconfiança. A criança, dependendo do
tratamento familiar/escolar, sente (ou não) que o mundo é relativamente seguro.
Crianças em
ambientes seguros desenvolvem o espírito de iniciativa, empreendedorismo e
coragem de assumir riscos.Entretanto, a criança reprimida, proibida de livre
expressão, que passa por diversas situações de constrangimentos (ex: ser
ridicularizada etc) e frustrações, fica insegura, tímida e apresenta sérias
limitações em relação à iniciativa e criatividade e, consequentemente, com
limitada capacidade de empreender e ter sucesso na vida adulta.
O relativo sucesso e criatividade que o
país apresenta na música e noutras artes são evidências do nosso potencial.
Provavelmente não teríamos alcançado tanto sucesso se todos os artistas fossem
obrigados e se expressarem de uma forma diga-se, “convencional”. O país precisa
urgentemente de crianças, jovens e adultos criativos, autoconfiantes,
persistentes enfim, empreendedores. Para tanto, devemos ser capazes de eliminar
todas as limitações à criatividade e inovação tão logo possível e o governo não
pode prescindir de adotar qualquer política que possa permitir alcançar esse objetivo.
É uma condição necessária paraa sobrevivência e sustentabilidade do crescimento
do País.
Dificilmente poderemos encontrar
exemplos de países com mesmo tipo de problema e por isso, provavelmente, não
teremos nenhum apoio nos manuais (pensamento dos outros) mas sim, estaremos a
ser desafiados a pensar esse problema que é tipicamente Cabo-verdiana “com a
nossa própria cabeça”.Mesmo sem consenso (porque ainda existe muita ignorância
entre nós), o Estado tem a responsabilidade de implementar a “ação afirmativa”
de tornar o ensino primário compulsoriamente NA língua materna. Além de proteger
um direito natural das nossas crianças, estaremos a dar-lhes maiores
oportunidades de fortalecerem a autoestima, a autoconfiança, a iniciativa, a
criatividade etc. Competências essas, que lhes serão essenciais para a sua
realização como individuo/cidadão e contribuir efetivamente para o progresso da
Nação.
Por exemplo, nos EUA, a política de
educação - “No child left behind”,
esta associada a necessidade de dar tempo para que as crianças evitem os
traumas que podem moldar a sua personalidade de uma forma negativa e reduzir a
sua autoconfiança e criatividade. A preocupação está na dimensão psicológica
que garante à criança a necessária estrutura emocional quando adulto.
Em Cabo Verde, se o ensino
primario não fosse obrigatorio, provavelmente ainda teriamos muitas crianças
fora das salas de aula e crentes de que “não tem cabeça para a escola”. Fugindo
do ridiculo e da “xacota” que ainda afligem as nossas crianças.
O debate em relação à lingua
materna tem sido orientado/dominado por assuntos que não são urgentes, nem
prioritarios, relacionados ao ensino DA lingua materna (Ex: asvariantes,
ALUPEC, controvércia entre “C” e “K” etc, com desfiles de vaidades, preconceitos,
hipocrisia, regionalismos etc,que em nada contribui para a coesão nacional), desviando
atenção do que realmente é
urgente, o ensino NA lingua materna que vai libertar as nossas crianças para que
possam realizar todo o seu potencial em toda a fase da sua vida.
O ensino NA
língua materna (somente na infância), além de ser um “Direito Humano”, é uma
condição para termos esperanças de ser um país desenvolvido no futuro. Não devemos ficar presos nos debates em torno
das questões formais. É urgente suspender, por enquanto,o debate em torno da
questão da oficialização da língua materna, variantes, ALUPEC etc e focalizar
na liberdade de expressão, na criação das condições necessárias ao pleno
desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças e por conseguinte, na construção
da nossa capacidade criativa e inovadora que, em última instancia, vai
determinar o nosso futuro. Caso contrario, estaremos a postergar ad aeternum o nosso desenvolvimento económico
ao permitir “podar” as capacidades criativas e inovadoras das nossas crianças.
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