sábado, 2 de maio de 2020

Capital social, economia solidaria e desenvolvimento económico



“Uma economia solidária exige, além do desenvolvimento de sua base material, um alto grau de conscientização e motivação por parte de sua população, movida por princípios éticos e valores de compaixão e solidariedade”. Henrique Rattner

Desde a independência o governo tem tentado transformar Cabo Verde em um País desenvolvido. Embora os esforços empreendidos, pode-se notar que ainda somos um País subdesenvolvido e com elevados índice de pobreza, desigualdade e desemprego.
A economia solidaria tem-se despontado como uma forma de organização do sistema económico focada na pretensão de se valorizar a autogestão, a cooperação, o acesso ao mercado a valorização do trabalho e a dignidade do homem tanto na dimensão económica como social.
O sucesso da economia solidaria depende em grande parte dos aspectos intangiveis da sociedade.Isto é, grande parte dos problemas que ainda se verificam no País estão associadas a ausência de atitudes de cooperação, falta de confiança, pouca organizaçãosocial e fraca mobilização da sociedade para resolver problemas comuns. Isto é, devido ao baixo nível do capital social as iniciativas de empreendimentos coletivos têm tido pouca viabilidade e sustentabilidade.
De acordo com Robert Putnam, Capital Social está relacionado com os diversos aspectos ligados à organização social, como redes sociais, confiança mútua, compromisso cívico, fortes laços de reciprocidade engajamento cívico, cooperação voluntária entre outros. Encontra-se relacionado ás normas, instituições e organizações que promovem a confiança e a cooperação entre pessoas.
Qualquer empreendimento que se baseia nos princípios de colaboração, cooperação, participação e confiança só consegue se desenvolver se tiver um elevado estoque de capital social. Neste sentido a economia solidaria só conseguirá prosperar se tiver como ingrediente os elementos do capital social.
Infelizmente, nota-se em Cabo Verde uma nítida redução da confiança (ex: dificuldades no acesso ao crédito por falta de fiador), varias associações de classes não conseguem se desenvolver por falta de participação e confiança e, praticamente inexistem cooperativas de produção. O desafio para se promover a economia solidaria deve começar primeiro por aumentar o estoque de capital social que além de permanecer muito baixo apresenta indícios de diminuição (aumento da criminalidade, desestruturação familiar, pouca confiança nos/entre outros).
Quando se promove as relações de reciprocidade e cooperação cria-se redes de solidariedade, confiança e tolerância e, possibilita elevados níveis de participação nas associações e portanto maiores possibilidades de se desenvolver a economia solidaria.
Neste sentido, a promoção e o sucesso da economia solidaria vai estar dependente dos aspetos intangíveis da sociedade e, basicamente, depende do nível de capital social que o país conseguir acumular e manter. Convém reforçar o aspeto de que o capital social se fortalece e aumenta quanto mais o utilizar e se manifesta através das iniciativas coletivas baseadas na cooperação espontânea, garantidas pela confiança e reciprocidade.
O papel do estado na criação do capital social será fundamental, principalmente em sociedades como a nossa onde existem desigualdades na distribuição de renda e de oportunidades, onde o desemprego reduziu as esperanças da população jovem, onde a imigração promoveu a desestruturação familiar e os elevados índices de violência desarticulou as redes de relações sociais. A falta de confiança, pouca cooperação e solidariedade dificultam a manifestação/surgimento da consciência cívica fundamental para a formação da sociedade civil critica, participativa e comprometida com as suas responsabilidades sociais e dispostos a enveredar pelos empreendimentos coletivos e, por conseguinte, limita o sucesso da economia solidária e, por conseguinte, a capacidade de desenvolvimento do país.

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