segunda-feira, 4 de maio de 2020

Limites, incentivos e desenvolvimento da economia de cabo Verde



O desenvolvimento económico é o resultado do processo de acumulação de capital. Depende, em última instância, das nossas opções na afetação dos recursos e, portanto, esta estritamente relacionado com o comportamento do homem económico (homo economicus).
As dificuldades em manter um fluxo contínuo de acumulação de capital não têm permitido um crescimento robusto e a absorção da oferta de mão de obra para que se possa reduzir o desemprego, frustrando as expectativas de jovens à espera do primeiro emprego. Portanto, identificar os entraves que estão a dificultar a acumulação de capital é uma tarefa essencial para que o economista possa ter um diagnóstico mais preciso e propor a terapêutica adequada para que o pais possa se desenvolver.
Embora as limitações metodológicas ainda condicionem fortemente o entendimento das motivações que estão por traz do comportamento das famílias, das empresas e do governo na afetação dos recursos, já é consenso de que o governo pode utilizar um conjunto de “incentivos” no sentido de moldar o comportamento dos agentes económicos e, alcançar desta forma, melhores resultados na afetação dos recursos, cada vez mais caros e escassos.
Todo o nosso comportamento na sociedade é moldado por um conjunto de regras e normas, usualmente denominado de “instituições” que, resumidamente,estabelece as “regras do jogo na sociedade”. Na ausência de normas e regras de comportamento os indivíduos tendem a agir de forma oportunista e egoísta, dificultando o alcance de melhores resultados coletivos, tais como o desenvolvimento económico.
Cabo Verde é um país de referência em termos da estabilidade politica e social. O respeito à constituição da república, as regras de transição democrática, os limites dos poderes legislativo, executivo e judicial estão bem definidos e, praticamente todo o comportamento do homem politico esta muito bem balizado e, os desvios de conduta são facilmente identificados e censurados. O mesmo acontece em relação ao homem social pois, a nossa herança cultural, as tradições, costumes e valores estão enraizados e moldam todo o nosso comportamento na sociedade, de maneira que qualquer ato ou comportamento desviante serão objetivamente percebidos e as penalidades, caso justificar, serão entendidas por todos os membros da sociedade pois, são conhecidos a priori.
O problema que enfrentamos esta associado ao homem económico, que ainda vive no estado de natureza, numa situação de completa anarquia, preocupado essencialmente em satisfazer as necessidades individuais de curto prazo, determinadas por fatores emocionais tais como a vaidade, ostentação e o impulso. Muitos comportamentos dignos de serem considerados “loucura económica” são registados porém, não são percebidos pela grande maioria da população. Na inexistência de parâmetros objetivos que possam servir de “bitola” para julgarmos qualitativamente o comportamento dos agentes económicos fica difícil perceber as manifestações de “insanidade económica” e, também, na inexistência de normas e regras que possam moldar o comportamento racional do homem económico, não se consegue promover a acumulação de capital e portanto, não se tem desenvolvimento económico e nem criação de emprego.
Em Cabo Verde ainda não se encontram estabelecidos os incentivos e as instituições necessárias para moldar o comportamento racional do homem económico e neste contexto as nossas opções em relação a afetação dos recursos são determinadas por fatores psicossociais influenciados maioritariamente pelos nossos valores e crenças em vez da racionalidade económica. A afetação dos recursos, na maior parte das vezes, é feita sem um estudo prévio quanto à viabilidade económica e, determinado frequentemente para satisfazer pressões sociais (ex: “bazofaria”).
Temos tentado construir uma economia capitalista porém, a realidade é que não temos verdadeiros capitalistas. Os nossos empresários têm demonstrado serem, efetivamente, mais latifundiários (gasta os recursos em bens de consumo e não reinvestem) do que capitalistas(investe em bens de capital) e as famílias têm priorizado o gasto em bens de consumo em detrimento da poupança e o investimento produtivo, limitando as possibilidades de desenvolvimento.Sempromover a acumulação de capital via reinvestimento, a participação dos empresarios nacionais no desenvolvimento é limitada.
Antes de se falar sobre o ambiente de negócios é urgente e imprescindível “educar” os nossos empresarios, para que se tornem em verdadeiros capitalistas e empreendedores. Em vez de exigirem que o ambiente se adapte às suas limitações e fraquezas, devem ser proativos e se adaptarem às nossas condições estruturais, que todos sabemos ser dificil, porém, oferece oportunidades de negócios factíveis e, obviamente, requer sacrifícios e maior eficiência de gestão.
Para resolver as disfuncionalidades apontadas, deve-seadotarpolíticas públicas que possam moldar o comportamento dos agentes económicos. O ÚNICO instrumento disponível para evitar/reduzir a “insanidade” do homem económico é a efetiva tributação patrimonial. Infelizmente a discussão sobre esse assunto tem sido liderada/dominada pela opinião popular e por indivíduos que não percebem a dimensão do sistema tributário como uma instituição importante e imprescindível para moldar o comportamento racional e “responsabilizar” o homem económico nas suas decisões de afetação de recursos. O imposto patrimonial é o mecanismo de incentivo que molda o comportamento do homem económico, faz surgir o capitalista, promove a afetação racional dos recursos e,portanto, determina o desenvolvimento do país no longo prazo.
O imposto patrimonial é praticamente inexistente no país. O Imposto Único sobre o Património-IUP que existe, não satisfaz, as reformas que se pretende implementar não estão coerentes com as necessidades que o país apresenta e, além do mais, tem limitado seriamente as transações económicas (deve-se tributar a posse e não as transações). Nós somos, atualmente, um dos últimos paraísos fiscais para o património. Sem dúvida, ao persistir nesta direção estaremos, conscientemente, a hipotecar o desenvolvimento do País ao retardar o surgimento do capitalista Cabo-verdiano.

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