A arrecadação de receitas é essencial
para a manutenção do estado de direito. Para exercer suas atividades o Estado precisa
se financiar através das receitas que arrecada, sendo a cobrança de impostos a
principal fonte de receitas. Estando certo de que a contribuição de cada individuo
não deva depender da sua consciência e boa vontade, o imposto deve ser
compulsório.
Ninguém gosta de pagar imposto e
nem o governo gosta de cobrar impostos porém, é sem dúvida um mal necessário
para estabelecer o estado de direito e a coesão social. Postergar a reforma
fiscal implica correr risco de ocorrer uma psicoadaptação ao incumprimento
fiscal e reforçar culturalmente, a evasão fiscal. Degenerando numa situação em
que poucos pagam e uma sociedade com limitada consciência de cidadania fiscal.
Nitidamente, uma grave violação do “contrato social” e retrocesso para o estado
de barbárie, onde não existem bens públicos essenciais, não existe garantia dos
direitos, ninguém é “incomodado”, ninguém colabora, ninguém participa e,…,
retornaremos ao estado de natureza.
Não podemos permitir tamanho
retrocesso e, se for preciso (eu acho mesmo necessário), deve-se aumentar a
carga fiscal para assegurar o progresso da Nação. Todos terão de contribuir e
não pode ser uma opção. O tamanho da carga fiscal deve estar coerente com as
necessidades e os desafios enfrentados pelo Estado. Se não estamos satisfeitos
com a prestação dos serviços/bens públicos a solução nunca deve ser, reduzir a
carga fiscal mas sim racionalizar as despesas e aumentar as receitas públicas,
ainda mais em um contexto de divida e deficit público elevados.
O imposto não deve ser
interpretado como simples forma de arrecadação de receitas mas sim deve-se ter
clara perceção de que é o meio necessário para se ter acesso aos bens públicos
(segurança, saúde, educação, saneamento etc), para se garantir o respeito aos
nossos direitos, para reforçar a democracia, para promover a justiça e
implementar as instituições necessárias para o bom funcionamento da sociedade
enfim, para pôr a maquina do Estado a funcionar.
Existe perceção generalizada de
que paga-se muitos impostos e os serviços prestados pelo Estado não justifica
todo o dinheiro arrecadado pelo imposto. O dinheiro não deve estar a chegar ao
destino ou a administração dos recursos tem sido muito ineficiente. Neste
contexto, pode-se perceber nítida falta de legitimidade do sistema tributário.
Tendo em consideração que esta legitimidade não se conquista pelo voto mas sim
pela perceção que a população tem sobre o uso do dinheiro público pode-se
perceber que a redução da evasão fiscal é um assunto delicado e de difícil solução,
sem antes recuperar a legitimidade do sistema.
A arrecadação do imposto não é
um fim em si mesmo e nem deve ser o principal motivo de uma reforma fiscal. Deve-se
reformar também na direção das despesas públicas.É necessário realizar
auditoria nas despesas do Estado no sentido de se identificar as oportunidades
de racionalização e implementação efectiva da responsabilidade fiscal.
Tendo em consideração que se
nota uma certa manifestação contrária ao aumento do imposto e ainda por cima com
a “sabedoria convencional” a acreditar que se paga muito imposto no pais, as
possibilidades do governo aumentaras receitas fiscais são limitadas. Estas
limitações não são somente económicas (limitada base de tributação,
informalidade, desemprego etc) mas também políticos (difícil de ter consenso
politico e possibilidade de manifestações populares) e culturais (cultura de
sonegação e fugir das obrigações fiscais etc).As revisões propostas pelo
Ministério das Finanças são nitidamente insuficientes mas não deixa de ser uma
condição necessária para a sustentabilidade do sistema tributário e da
economia. Aumentar a base tributaria, diversificar as fontes de receitas e
melhorar a administração tributária parecem ser, juntamente com a maior
sensibilização sobre a educação tributaria/cidadania fiscal, imprescindíveis
para garantir maior sustentabilidade, maior responsabilidade fiscal e reduzir a
evasão fiscal.
Geralmente a evasão fiscal é
reduzida quando as pessoas perceberem que os outros também estão a contribuir e
que existe tratamento justo e transparente; quando percebem que existe punição
efectiva para os crimes fiscais; quando percebem os benefícios dos
investimentos públicos e quando tem confiança nas instituições do estado.
Quando existe um clima de desconfiança de que os recursos arrecadados não estão
a ser empregues corretamente e,associado à debilidade institucional em termos
de capacidade de controlo e fiscalização por parte da administração fiscal,
aumenta-se consideravelmente a sonegação fiscal e, mais grave que pode
acontecer ainda, é reforçar a cultura de não pagamento das obrigações fiscais,
colocar em risco o estado de direito e a sobrevivência da Nação.
A
pergunta que se deve fazer é se estamos satisfeitos com o nível dos serviços
públicos essenciais. Que pais pretendemos ter e o que estamos dispostos a fazer
para que o pais possa realizar o seu potencial? Quanto estamos dispostos a
pagar para termos maior coesão social? Será necessária uma revisão do “contrato
social”? Para começar, o governo deve poder convencer a opinião pública de que
“para fazer a omelete, deve-se partir o ovo” e, devemos, literalmente, “pagar
para ver”. O imposto é um pagamento compulsório porém, se não estivermos
satisfeitos com a gestão dos recursos arrecadados, nas eleições, faremos o
nosso julgamento.
Além
de obrigação moral, cumprir a lei fiscal é participar para construir o futuro
colectivo comum.
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