quinta-feira, 14 de maio de 2020

Homo fobadus



A clássica teoria económica acredita no princípio da racionalidade dos agentes económicos. Não precisamos fazer muito esforço para demonstrar que pelo menos em Cabo Verde, muitas pessoas apresentam limitada racionalidade como “homo economicus”.

Esta limitada racionalidade dos agentes económicos Caboverdianos é determinada principalmente pela informação incompleta, assimetria de informação, inexistência de mecanismos de regulação e estruturas eficientes de “incentivos” na sociedade que molda o comportamento economicamente racional. As deficiências na racionalidade se verificam principalmente nas nossas relações com o dinheiro. Ainda somos imaturos, incapazes de dar tempo para que as coisas acontecem e é frequente encontrar jovens em situação de inadimplência ou sobre-endividamento.

A influência das técnicas de vendas modernas, marketing, facilidades de crédito, tem levado muitas famílias a tomarem decisões pouco racionais ou ineficientes na afectação de recursos. Frequentemente, os consumidores embora “livres” e soberanos (mas ignorantes, em termos financeiro devido á racionalidade limitada e informação incompleta), são levados a um nível de endividamento insustentável, favorecendo o surgimento do “FOBADU”.

Frequentemente o nosso hábito de consumo é determinado por objectivos não-económicos tais como a vaidade, a ostentação, o consumismo, “basofaria” etc que acabam por nos levar a fazer escolhas pobres na selecção dos investimentos.

È frequente encontrarmos indivíduos/famílias que tem dificuldade em gerir um orçamento até o final do mês. Essa situação tende a se generalizar na sociedade e actualmente é cada vez maior o número de famílias incapazes de controlar o orçamento familiar, endividados e com pouca esperança de sair desse sufoco. Para corroborar essa teoria pode-se analisar as últimas modas de expressões entre a população e as inovações tecnológicas adaptadas à nossa situação (ex: Txomam, Mandam saldu, Pistam saldu, Dja pôdu?, Kau mau!, mariádu!, orientam! Etc).

Sem dúvida, estamos perante um retrocesso da evolução do homo economicus com o surgimento do Homo fobadus e com tendência para um downgrade para a versão, Homo fobadus fobadus.

Neste contexto, a participação e liderança do estado é fundamental, principalmente no estabelecimento de instituições (regras e normas de conduta) e educação financeira que possam moldar o comportamento saudável com o dinheiro.

5 comentários:

Olavo Semedo disse...

Boa noite grande texto para reflexão no que diz respeito ao uso de dinheiro na tomada de decisões financeiras coretas. Meus parabéns

Agnaldo Moreira disse...

Tudo o que está escrito neste texto é o reflexo do modo de vida da nossa atual sociedade caboverdiana em termos financeiros...Muito bom!

Unknown disse...

É infelizmente não herdamos essa vocação para poupar. Muitos dos caboverdianos ainda não tem essa educação financeira que é um factor muito importante para a nossa econimia.Paracem que não querem saber de onde veio o dinheiro e que não tem nehum interesse em estipular prioridades dos quais são mais importantes para poderem perceber como é que " o gerenciar o dinhero " funciona. Em fim querem viver um mês de cada vez para poderem receberm os seus salários e gastar tudo até o proximo mês.

Rubem Pereira disse...

Bom dia. Grande texto sobre o modo/comportamento da maioria dos cabo-verdianos em termos socio-economicos.
No nosso país, temos enorme quantidade de indivíduos, inclusive funcionários, que possuem um rendimento razoável ou um bom rendimento mensal, que nunca saem da situação de "Bica". É evidente que o problema está no mau comportamento económico, ou seja, na incapacidade de planejar e gerir a mensalidade.

Unknown disse...

Excelente reflexão. Essa é nossa realidade. Pessoas que caem no comodismo e acham que erdam essa situação de seus familiares ou em certo meio onde os rodeiam. As pessoas têm de ter um mente dinâmico fazer sempre o necessário e dar tempo para cada coisa. Como digo sempresa, todas as coisas são importantes, mas, existe aquilo que é mais importante e nisso temos de usar o custo de oportunidade.

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